sábado, 13 de setembro de 2014

O rio da minha Aldeia ...

FERNANDO
PESSOA

Poemas de
Alberto Caeiro

    O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, 
    Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
    Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. 

    O Tejo tem grandes navios 
    E navega nele ainda, 
    Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
    A memória das naus.
    O Tejo desce de Espanha
    E o Tejo entra no mar em Portugal.
    Toda a gente sabe isso.
    Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
    E para onde ele vai
    E donde ele vem.
    E por isso porque pertence a menos gente, 
    É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

    Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
    Para além do Tejo há a América
    E a fortuna daqueles que a encontram.
    Ninguém nunca pensou no que há para além
    Do rio da minha aldeia.

    O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
    Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

       Alberto Caeiro

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